20 de Abril, uma data simbólica. Data de nascimento de Adolf Hitler. Vespera da data onde se homenageia, aqui no Brasil, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, herói da Inconfidência Mineira(vespera de feriado, oh yeah, é importante tambem!).E para este que se pronuncia agora, um terceiro significado é atribuido à essa data: o dia em que Florianópolis "parou". O dia no qual a bela capital catarinense viu os bárbaros trazerem toda sua fúria e sua jovialidade pós-50 anos para a casa de shows Floripa Music Hall.E os bárbaros fizeram a cidade tremer. A banda Motörhead esteve realmente aqui.
Sim, Lemmy Kilmister existe. O mito é real, não é apenas uma utopia de mentes embriagadas pelo Rock´n Roll e por Jack Daniels. O cara é de carne, osso, Rock e muita vontade e, junto com sua trupe formada pelo legendário baterista Mikkey Dee e pelo guitarrista virtuoso Phil Cambell, marcou a história da cidade. O cara que talvez seja o mais cool do Rock pesado, quiçá de toda a música. O homem que foi roadie de Jimi Hendrix, que credita seu amor ao Rock aos Beatles, que tocou em pencas de bandas durante décadas de vida, bem, esse cara é mais do que real. Ele faz o chão tremer, e se ele não fosse real, ele moldaria à realidade sob a força de sua vontade, fazendo com que tudo se tornasse plausivel. Ele é simplesmente Lemmy Kilmister.
Precedendo o espetáculo principal, os motores foram aquecidos pelo vigoroso show da banda paulista Baranga, no melhor estilo Motörhead de fazer Rock´n Roll: sujo, rápido, "feio". Uma rápida pancada para botar nos eixos e preparar as mentes e os ouvidos de todos os presentes para o que viria a seguir, um verdadeiro massacre de hora e meia do melhor Rock´n Roll do mundo, ainda em atividade após mais de três décadas de existência, mais de 20 albuns, um longo chão percorrido e muita história pra contar. Foi um show direto, mostrou exata e claramente a que veio, botar pilha de forma certa para todos estarem preparados para Lemmy e cia.
Então, após o breve interlúdio, com os ouvidos já devidamente afinados, eis que alguns minutos antes da hora marcada adentram o palco os três caras que foram tão esperados durante a noite toda, trazendo a esperança de um verdadeiro espancamento sonoro regado à monstruosa força e tecnica de Mikkey na bateria, à precisão e energia de Phil na guitarra e à presença de palco quase sobrenatural de Lemmy, aliada à sua tão tarimbada voz rouca e retumbamte. Estava formado o crime.
Sem delongas, frescuras pirotécnicas ou grandes firulas desnecessárias para o momento, Lemmy deu a partida na máquina, em meio a urros e à vibração dos ouvintes, com sua célebre frase, a que se tornou o gatilho da arma durante a existência da banda: "We are Motörhead, and we play Rock´n Roll". E estava iniciado o show. Com a velocidade e precisão da dobradinha de clássicos "Iron Fist" e "Stay Clean", Motörhead abriu verdadeiramente a noite e espantou qualquer marasmo que, milagrosamente, ainda pudesse existir ali. Riffs cortantes, pegadas velozes de bateria, tudo estava ali para fazes jus ao melhor do Rock´n Roll. Na sequência, uma música do novo album "The World Is Yours" seguiu o curso pré-determinado com uma energia enervante e um solo muito bem feito la pela metade da música. Na sequência, sem maior necessidade de explicaçãoes, apresentaram-se "Metropolis", "Over the Top" e "One Night Stand", verdadeiros primores do Rock pesado. "Rock Out", do album "Motorizer", que tem sido uma presença marcante em quase todos os shows da banda, incendiou de vez a casa em pouco menos de 3 minutos, com sua pegada Punk Rock visceral, rápida. Sensacional.
Sucedendo "Rock Out", um belo solo de Phil Cambell foi executado com emoção e técnica, quase que hipnotizando os que o ouviam para, em seguida, fazer explodir as vozes de todos após seu término. Mais uma música do penúltimo album da banda tomou seu lugar, "The Thousand Names Of God", seguida da simples e direta "I Got Mine". Sucedendo mais essa dobradinha, outra musica do novo album, "I Know How To Die", novamente fez com que a multidão urrasse em côro para prestigiar uma música do novo e ótimo album da banda, mostrando que mesmo após décadas, o Motörhead consegue soar tão, ou talvez ainda mais, Rock pesado do que há 30 anos. A destruição seguiu com "The Chase Is Better Than The Catch", e teve seu verdadeiro ápice com a música "In The Name Of Tragedy", que foi um dos maiores destaques da noite com um solo simplesmente arrebatador e monstruoso de Mikkey na batera incluso ao longo da música. Cerca de 4 minutos de pura violência, velocidade e sentimento transpostos para os pratos e bumbos.
Quse anunciando o final do show e antecipada por um breve "elogio" de Lemmy aos politicos e poderosos que destroem a vida das pessoas, "Just Cos You Got The Power"(particularmente uma de minhas favoritas, e de longe a melhor letra da banda) leva a uma reflexão sobre o que é feito das pessoas pelas mãos dos poderosos e dos ricos, no melhor estilo de Lemmy na composição. Para dar prosseguimento, uma quadra de clássicos da banda, músicas emblemáticas e adoradas, irrompeu como o fogo do Inferno: "Going to Brazil", demonstrando o carinho da banda pelo nosso país; "Killed By Death"(outra de minhas favoritas), o mais do que simbólico e indispensável petardo "Ace Of Spades", uma verdadeira marca da banda; e o encore "Overkill", com seu bumbo duplo frenético terminando de agitar os espiritos e os ouvidos de quem ainda estava vivo até então. Noite perfeita, um setlist quase perfeito(no qual eu apenas teria incluido Born To Raise Hell, Whorehouse Blues e a nova Born to Lose) e uma apresentação memorável.
No fim das contas, o que fica para sempre é algo que o barbaro-mór Lemmy diz logo no inicio de toda essa desgraceira sonora, e é uma verdade absoluta suprema: "WE ARE MOTÖRHEAD, AND WE PLAY ROCK`N ROLL". Eu digo mais, Motorhead É o Rock´n Roll.